sábado, 12 de julho de 2008


Artigo de Duarte Cordeiro no Semanário SOL - 12 Julho de 2008


Manuela Ferreira Leite a preto e branco "Estou convencido que não vivo no mesmo século que a nova líder do PSD. Digo isto após ter ouvido as primeiras intervenções públicas de Manuela Ferreira Leite, nas quais defendeu que o país não precisa de investimento público, porque é pobre, que não precisa de TGV, porque é um luxo, que não fazem sentido casamentos entre pessoas do mesmo sexo porque o casamento tem como finalidade «a procriação». Ao contrário do que se tem dito, cabe ao PS, e à JS, fazer oposição a estas posições, evitando que se generalizem determinadas ideias de sociedade e de mundo.Quando a nova líder do PSD defende a redução do investimento, o que ela está mesmo a defender é o recuo do Estado e do apoio social.Porque, num contexto em que as exportações do nosso país diminuem visto que a procura internacional se reduz, o investimento é um multiplicador de crescimento económico e de emprego. A sua redução só pode implicar a redução de gastos do Estado. Ou seja, ao fim de três anos de redução do défice, que custaram muito a todos os portugueses, Ferreira Leite acha pouco. Acha que temos de cortar mais ou voltar a vender tudo e barato como recentemente o fez. Com uma crise internacional, provocada pelo liberalismo desregulado de quem pensa como o PSD, pretende uma economia portuguesa ainda mais liberal com menos Estado e menos apoios na Educação, Saúde, Protecção Social ou Emprego.Manuela Ferreira Leite prefere ignorar a causa dos problemas, a subida dos preços fruto da especulação financeira e dos mercados livres, e aproveitar-se da subida do custo de vida das pessoas para, demagogicamente, anunciar que somos todos pobres. Podia ter falado a verdade, referindo que a pobreza diminuiu em Portugal, de 2004 para 2006, mas que continuamos a estar entre os países com maior desigualdade na Europa, mas preferiu a demagogia fácil.Também se esqueceu da minha geração. Uma geração que fez inter-rail, que fez Erasmus, que sente que a Europa está longe. Uma geração que tem amigos com orientações sexuais diferentes, que assumem as suas opções com naturalidade. Uma geração que convive bem com a diferença e não aprecia a discriminação. Para nós o casamento entre pessoas do mesmo sexo é algo que mais tarde ou mais cedo acontecerá.Existem muitas desigualdades sociais que têm de ser corrigidas. Acho que é possível ao Governo, e a José Sócrates, «agir por + igualdade». Apesar da crise internacional, e da necessidade de respostas globais para problemas como o preço do petróleo, temos de reforçar as nossas respostas sociais aos mais desfavorecidos, entre eles os mais jovens.Mas vivo num século XXI a cores e não num século XX a preto e branco, em que, aparentemente, Manuela Ferreira Leite vive. "
Artigo de opinião de Duarte Cordeiro no Semanário SOL - 12 de Julho de 2008

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